sexta-feira, 4 de maio de 2012

O eterno "spirare" e o encontro com Deus

Não sei ao certo quando é que entrei em contacto com os ensinamentos dos sufis. Não sei se foi através de livros, através de Rumi se pela música... sei que quando começaram a fazer parte de mim foi como se completassem um espaço que já era deles...

Após uns anos de estudos, consegui ir à Turquia e aí... tudo re-começou.
Os cheiros, os sorrisos, as ruas estreitas, as sardinheiras plantadas em latas, os caminhos sinuosos, a amplitude e beleza das mesquitas, Jesus Cristo, a montanha de algodão, os dervixes, a zona dos belos cavalos, as pedras antigas e valiosas, Rumi, o chá de menta, as paisagens ora lunares ora verdejantes, os abraços, a Virgem Maria, tudo cheirava e sabia a familiar...


Foi nessa altura que compreendi o significado de sema (cerimónia de devoção) de que faz parte uma meditação muito especial e particularmente forte. Trata-se de uma meditação física e dinâmica praticada pela ordem dos Dervixes Rodopiantes, criada por Mevlâna Jalâluddîn Rumi (Turquia, séc. XIII).                                                                                 A figura central desta cerimónia é o Dervixe. Este, vestido de branco (eterno símbolo de pureza) rodopia (spira) sobre si próprio de forma ininterrupta, ao som de música especificamente adequado ao momento. A sua mão esquerda está virada para baixo, em direcção ao chão, a sua mão direita liga-se ao universo, e é assim, pela movimentação repetida do que podemos chamar um mudra corporal, que os Dervixes atingem o seu estado de união com o divino. Esta ascese, chamemos-lhe assim, é alcançada não só pelas técnicas que aprendem e apuram ao longo dos anos, mas essencialmente através do despojamento do ego (daí o manto branco), de desejos e projecções pessoais.

 A "espiral" de energia que criam com este movimento, através de técnicas de concentração e de respiração (respira) específicas, e que no fundo recria o círculo orbital dos planetas do universo, permite-lhes, então, contactar de uma forma intensa com o Absoluto.

E vocês, como é que contactam com o vosso Divino? Respiram? Giram? Fica a Pergunta.

Deixo-vos um poema de Rumi sobre a sema.

"O que quer que exista, só existe no giro;
quando danças, ele sustenta teus pés.
Vem, que este giro te pertence
e tu pertences ao giro.
O que faço quando vem o amor
e se agarra ao meu pescoço?
Seguro-o, aperto-o contra o peito
e arrasto-o para o giro!
E quando as asas das mariposas
abrem-se ao brilho do sol
todos caem na dança, na dança
e jamais se cansam do giro!"

 Num dia de Vénus, à 3ª hora de Mercúrio

Sem comentários:

Enviar um comentário

Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 3.0 Portugal