As palavras não são minhas, mas o meu interesse nelas basta para que aqui as publique com a referência ao seu autor!
Um mito é um modelo exemplar que, quando vivido pelo ritual, pode induzir à vivência da nossa plurissemia primordial e comungar com as forças do inconsciente. Através de um padrão de batida repetitiva, gerador de frequências de mais ou menos 180 circulos por segundo, podemos auto-induzir um estado alterado de consciência que nos ajuda a entrar no espaço interior da Imaginação Mítica ou no Tempo do Sonho.
Para vários neurofisiologistas, o poder do tambor parece advir da sua capacidade percurssiva de induzir estados alfa no cérebro. São estes estados que nos permitem experimentar os fenómenos de transe ligeiro, ter intuições e visões, eceber comunicações não-humanas. Em essência, os estados alfa são os mesmo estados que permitem que nós sonhemos todas as noites. Porém, o transe ligeiro da percussão xamânica é o seu oposto: conservando por um lado as virtudes imaginativas do sonho e mantendo, por outro, o campo da consciência desperta. Esse estado alterado é sentido fisicamente como uma euforia, uma sensação de fogo fisiológico ("firing"), de ardor e iluminação. Não era por acaso assim que muitos xamãs falavam do dom recebido dos Ancertrais: o Domínio do Fogo!
Depois de baterem tambor durante mais de 15 minutos na mesma batida, a maioria das pessoas torna-se inquieta e aborrecida pela monotonia percurssiva. As pessoas que não conseguem ultrapassar esse estado sofrem de um processo de rejeição inconsciente ao processo visionário percurssivo. (...) Aprender com o tambor é, sobretudo, aprender a confiar no corpo.
Gilberto de Lascariz
Num dia Marte à primeira hora do Mercúrio
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