terça-feira, 10 de dezembro de 2013

De Rumi



Vem
 Te direi em segredo
 aonde leva esta dança

 Vê como as partículas do ar
 E os grãos de areia do deserto
 Giram desnorteadas.

 Cada átomo
 Feliz ou Miserável,
 Gira apaixonado
 Em torno do sol.

 Ninguém fala para si mesmo em voz alta
 Já que todos somos um,
 falemos desse outro modo.

 Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
 Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
 Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
 Desde que chegaste ao mundo do ser,
 uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.

 Primeiro, foste mineral,
 depois, te tornaste planta,
 e mais tarde, animal.
 Como pode ser segredo para ti?

 Finalmente, foste feito homem,
 com conhecimento, razão e fé
 Contempla teu corpo - um punhado de pó

 Vê quão perfeito se tornou!
Quando tiverdes cumprido tua jornada
 decerto hás de regressar como anjo,
 depois disso, terás terminado de vez com a terra,
 e tua estação há de ser o céu.
 Não durmas,
 senta com teus pares.

 A escuridão oculta a água da vida,
 Não te apresses, vasculha o escuro.
 Os viajantes noturnos estão plenos de luz
 Não te afastes pois da companhia de teus pares.


Faltam-te pés para viajar?
 Viaja dentro de ti mesmo,
 e reflete, como a mina de rubis,
 os raios de sol para fora de ti.


 A viagem conduzirá o teu ser,
 transmutará teu pó em ouro puro.

 Sofreste em excesso
 por tua ignorância,
 carregaste teus trapos
 para um lado e para outro,
 agora fica aqui.



 Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
 Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti
 Eis aqui o sentido profundo da minha relação contigo,
 Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.



Oh dia, levanta! Os átomos dançam
 As almas loucas de extase dançam,
 A abóbada celeste, porcausa deste Ser dança
 Ao ouvido te direi aonde leva sua dança.



 Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
 _ Não me esconda nada dos segredos do mundo!
 Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
 - Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!

 Quero fugir a cem léguas da razão,
 Quero da presença do bem e do mal me liberar,
 Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser,
 Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!

 Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
 E eu agarro esta cabeleira de mil tranças
 Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
 Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.

 Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu...
 Esta água nunca faltou a este riacho
 Ela é a substância do almíscar e nós seu perfume,
 Alguma vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?

 Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
 Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
 Se bebo água, quando estou sedento
 Vejo na água o reflexo do teu rosto.

 Sou medido... ao medir teu amor
 Sou levado... ao levar teu amor
 Não posso comer de dia nem dormir de noite
 Para ser teu amigo
 Tornei-me meu próprio inimigo.

 Teu amor me tirou de mim,
 De ti, preciso de ti
 Noite e dia, eu queimo por ti
 De ti, preciso de ti.


Não posso dormir quando estou contigo
 por causa do teu amor
 Não posso dormir quanto estou sem ti
 por causa de meu pranto e gemidos.
 Passo as duas noites acordado
 mas, que diferença entre uma e outra!

Não temos nada além do amor
 Não temos antes, princípio nem fim
 A alma grita e geme dentro de nós:
 - Louco é assim o amor
 Colhe-me, colhe-me, colhe-me

 À noite, pedi a um velho sábio
 que me contasse todos os segredos do universo.
 Ele murmurou lentamente em seu ouvido:
 - Isto não se pode dizer, isto se aprende

A fé da religião do Amor é diferente,
 A embriaguez do vinho do Amor é diferente,
 Tudo que aprendes na escola é diferente.
 Tudo que aprendes do Amor é diferente.

 Vem ao jardim da primavera, disseste.
 - Aqui estão as belezas, os vinhos e a luz.
 Que posso fazer com tudo isso em ti?

 E se, estás aqui, para que preciso disso?


Poemas Místicos-Jalal al-Din Husain Rumi

Num dia de Marte à última hora de Mercúrio 

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