segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Viagens na terra dos outros # 1

Existe uma reentrância arquitectónica que lhe serve de assento, sempre que por ali o seu corpo erra.
De todas as vezes que a encontrei, na mesma incerta rua de Lisboa, aquele é o seu lugar.
Costuma estar a acabar um cigarro de olhos postos nas nuvens (quando as há, no céu) alheada e  indiferente a quem com ela se cruza.

Nunca trocámos um só olhar (porque as nuvens ou os movimentos acrobáticos dos pássaros são bem mais interessantes do que as pessoas que por ali passam, e nisso louvo o seu olhar selectivo). Mas eu reparo, timidamente, que ela tem sempre um pedaço de pano triangular a segurar-lhe os rebeldes fios grisalhos do seu cabelo. Usa umas calças de ganga com uma dobra grande em cada perna, a fingir de bainha e um mesmo casaco que é como se fosse uma segunda pele sua.
O mais jovial da sua figura são os olhos... que sorriem, mesmo quando todos nós que passamos por ela temos, sem razão, olhares mais pesados do que o seu.

Os seus olhos sorriem, mesmo que a sua história caiba numa saco de plástico velho e enrugado;

Os seus olhos sorriem mesmo que a manhã seja mais fria e o maior agasalho que possui seja o seu casaco coçado;
Os seus olhos sorriem às pequenas coisas e ela é leve como o fumo do seu cigarro.

Nunca tive coragem de lhe perguntar o nome mas lá há de chegar o dia em que me encho de coragem e lhe vou agradecer pelo sorriso dos seus olhos, que me torna a mim mais leve.




Num dia de Lua à primeira hora da Lua

domingo, 8 de setembro de 2013

Carta da semana - Temperança ou Alquimia Celeste?

Pois evidentemente que o Tarot, "esperto" como é, nunca falha.
Às vezes até parece que faz de propósito... Bolas!!
Ora o que quero eu dizer com isto?

Primeiro, a semana do Dependurado foi MESMO de bloqueio [começou com uma valente dor de costas - sendo que o ponto "fraco" do Dependurado, em termos de saúde, são os ossos (no shit!?!) - e, aos poucos essa mesma dor acabou por impor uma certa calma, ou melhor dizendo, uma maior lentidão nos movimentos, um maior silêncio interior. Temos portanto o quadro perfeito para que surjam as habituais "epifanias metafísicas" que o silêncio nos costuma trazer, lol...
Muito grata, pela dor de costas e demais consequências!].  
Well done, Arcano XII, missão cumprida!

Depois, "por pura coincidência" apeteceu-me introduzir no blog o assunto Alquimia. Desta forma, aqui e além surgiram durente estes dias referências a Hermes Trimegisto, A Yourcenar,Claudine Brelet-Rueff e outros blá-blá-blás... Resultado... vamos a tirar a carta da próxima semana... E não é que sai a Temperança?!

E o que é a Temperança? Pois, não é, nada mais, nada menos do que a Alquimia Celeste! Parece que já se sentia do "cheirinho" da Temperança por estas bandas.
Fico mesmo comovida com estas coisas!

A Temperança, sintetiza o processo iniciado pelo Mago e pela Força. Depois da Morte, este é o Arcano do Homem-Novo, aquele que é capaz de combinar harmoniosamente os diversos componentes que fazem parte da totalidade do Ser.

É Luís Resina quem o diz : "Depois de limpos os canais que obstruíam este processo, a personalidade torna-se o instrumento para a realização do propósito da Alma. A mente, as emoções e o corpo, são agora o forno Alquímico onde será destilada a pedra filosofal".

Vamos, então, fluir esta semana em harmonia com a nossa essência (e, se Deus quiser, lá hão de desaparecer as dores de costas - please...).


Num dia de Sol à primeira hora do Sol

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

De Yourcenar

 
"Zenão, debalde lhe lembrava que os astros influem no destino de cada um, mas não decidem, e que tão forte, tão misterioso como eles, regulando a nossa vida, obedecendo a leis mais complicadas do que as nossas, é essoutro astro vermelho que palpita no mais escuro do corpo, suspenso da sua gaiola feita de ossos e carne".

A obra ao negro, Marguerite Yourcenar 

Num dia de Vénus, à última hora de Vénus.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Das palavras (que deviam ser) proibidas

Há palavras que deviam ser banidas dos dicionários do mundo inteiro, banidas de todas as línguas e formas de expressão. Como se pudesse haver um corrector mundial e gigante que com um simples delete as fizesse desaparecer.

No nosso dia-a-dia, a maior parte das vezes (não será antes sempre?!) estruturamos a nossa forma de pensar e, consequentemente, o nosso discurso seja no trabalho, em casa, no café, de uma forma muito pouco positiva.
Se atentarmos nas conversas dos outros (e, para um melhor resultado, nas nossas próprias conversas) notamos que expressões como: “Vamos andando!”; “Cá, estamos, uns dias melhor outros dias pior.”; ”É a vida” etc, são MUITO frequentes. Diria mesmo que por vezes as sinto quase como apanágio de ser Português (mas sobre isso não falaremos agora).

Destas expressões, a usar palavras como “difícil”, “desgraça”, “crise” (esta parece que anda em saldos!), “problema”, “doença”, “impossível”, “drama”, “horror” (estas últimas duas em homenagem ao mítico Artur Albarran que, curiosamente, veio a sofrer de leucemia...), “mau”, “catástrofe”, “sofrimento”, etc, vai um pulinho.
Qual é o problema? Se acreditarmos na teoria que defende que, mais do que sermos o que comemos, somos o que pensamos e dizemos… estamos basicamente…lixados.

Pode ser contestada cientificamente, concedo, mas a teoria de Emoto que já apresentámos sumariamente a mim, encanta-me. E ele não é o único a dizê-lo. Há mais.
Por acaso¸ li este post aqui e não podia vir mais a calhar : No Ocidente, um psicólogo, farmacêutico e pioneiro de auto-hipnose chamado Emile Coué usou uma frase, uma única frase, como forma de cura para os seus pacientes. Ele dizia que não curava os seus pacientes, apenas os ajudava a curarem-se a si próprios. E instruía-os a repetirem para si próprios, de manhã e à noite, a frase que se destinava a programar a sua mente subconsciente: “De dia para dia, e sob todas as formas, estou melhor e melhor e melhor”.
   
Daqui, relembro que Claudine Brelet-Rueff (a propósito de Alquimia) nos diz que: O Alquimista concebe a doença como um desequilíbrio vibratório entre as células do cérebro e as do organismo. (…) A medicina Alquímica apoia-se no potencial das forças de defesa do organismo; é a medicina da confiança no homem e nas suas potencialidades de cura; é uma medicina de sabedoria. Nisso, é herdeira da tradição de Hipócrates, segundo a qual “são as naturezas que curam a doença. A Físis encontra sozinha o seu caminho”.

Se encararmos a doença como este estado de desequilíbrio e se aceitarmos o predicado de que o nosso corpo reage às vibrações a que é exposto (nomeadamente à vibração das palavras) porque continuamos nós a repetir palavras que não nos fazem bem?!
Porque não tentamos  simplesmente contornar essas pequenas sentenças que, sem notarmos, vão fazendo com que nos vamos sentindo mais impotentes, mais tristes, deprimidos e, afinal, doentes?
Podemos simplesmente evitá-las, por exemplo:

Difícil = Menos fácil; Problema = Situação em vias de resolução; Doença = Estado em vias de recuperação; Mau = Menos bom; etc, etc, etc.

É verdade que basta ligar a televisão ou abrir um jornal para que este tipo de vocábulos se estampem no nosso (in)consciente como acórdãos de um tribunal superior que não se podem contestar e a que temos de nos submeter; mas podemos sempre não aceitar. Podemos sempre defender-nos.

Comecemos hoje, por exemplo. Desligamos o telemóvel, a televisão e fechamos os jornais. Sentamo-nos confortavelmente ...  fechamos os olhos. 
E simplesmente tentamos rodear-nos de palavras e pensamentos positivos. Depois, todos os dias tentamos estar atentos às palavras que dizemos. Tentamos contornar os "maus", "horríveis", e os "problemas" para os tornar "menos bons", "menos bonitos" e "situações em vias de recuperação".

Porque não experimentar? Não deixemos para amanhã o que podemos curar hoje!

Num dia de Mercúrio à 2ª hora da Lua.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

De Hermes Trimegisto

 



Porque tu és o que eu sou, tu és o que eu faço, tu és o que eu digo. Tu és todas as coisas e nada existe distinto de ti, tu és o que não é, tu és o que chegou a ser e o que não chegou a ser. Tu és o Pensamento que se tem, o pai que gera a obra, o Deus que actua e o bem que produz todas as coisas.


Corpus Hermeticum - Tratado V








Num dia de Marte à 2ª hora de Vénus

domingo, 1 de setembro de 2013

Carta da Semana... O Dependurado O.o




É justo!

Depois de tantas viagens (internas e externas; físicas e emocionais), chapadas de luva branca, encontros imediatos de terceiríssimo grau e voltas e mais voltas no carrocel Araújo, cá temos esta nova semana que nos vai “parar” um pouco.

Estamos sob a energia do Arcano 12 (O dependurado).

Por um instante, a Vida coloca-nos de cabeça para baixo (ou num outro topoi – do grego τόπος), de uma outra perspectiva para nos analisarmos. Parece-me que faz todo o sentido; Depois de arrumados os “rabos de palha” (JulgamentoXX) e agitadas as águas (Carro VII) cumpre agora olhar para o que somos e para o que resta de nós de uma outra perspectiva. Só podia!

Aproveitemos este aparente “bloqueio” energético para nos colocarmos na nossa vida mas de uma outra perspectiva; O que nos falta mudar? Qual a área (amor, dinheiro, profissão, espiritualidade) que necessita de um (re)arranjo? O que quer a Vida mostrar-nos? Que sacrifício (do latim – sacrificium – no sentido de tornar sagrado) teremos de fazer?
Vamos estar atentos aos próximos dias porque decerto o vamos descobrir.

Numa das minhas analogias, procuro (e encontro) neste Arcano o simbolismo dos asanas “árvore” - vrikshasana e “vela” – sarvangasana;

Com o afluxo de sangue a acorrer ao cérebro, explica-se a auréola do “dependurado”; a Iluminação, o samadhi , a integração, depois da paragem e da aceitação.

No simbolismo do baralho de Waite, o nosso Herói pára, dependurado da cruz Tau, símbolo dos iniciados, da divindade da consagração (lembremos que Jesus foi crucificado (!)).

Porque esta é uma carta forte, acrescentamos dois excertos literários que nos ajudam a compreendê-la melhor:

Sei que pendia /Da árvore flexível,/Durante nove longas noites,
Ferida pela lança/Dedicada a Odin,/Eu mesma me feri/No galho da árvore;
Não é possível descobrir/ De qual raiz ela cresceu” 
 Edda (livro sagrado dos Nórdicos).

Não tentemos impedir uma pausa forçada. Ela é o precedente psíquico de toda a verdadeira compreensão.”
Robert M. Pirsig (Zen ou a arte de consertar uma moto).


 Num dia de Sol à segunda hora de Júpiter

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Oh mãe.... O que é meditação?

Quando o meu filho crescer e se algum dia tiver a curiosidade de me fazer esta pergunta, não sei bem o que lhe responder...
Talvez comece por dizer que a meditação não é uma coisa que se faz, mas um exercício diário de aperfeiçoamento, de limpeza... É, no fundo, como lavar os dentes... Quanto mais vezes se praticar melhor!!

Como as respostas são inúmeras, e as possibilidades também, vou citar quem sabe da matéria, mais do que eu, para ajudar.


“Meditation is not a means to an end; there is no end, no arrival; it is a movement in time and out of time.  Every system, method, binds thought to time, but choiceless awareness of every thought and feeling, understanding of their motives, their mechanism, allowing them to blossom, is the beginning of meditation.
When thought and feeling flourish and die, meditation is the movement beyond time.  In this movement there is ecstasy; in complete emptiness there is love, and with love there is destruction and creation.”

 J. Krishnamurti


Num dia de Lua à 2ª hora de Júpiter
Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 3.0 Portugal