Esses arautos da nossa evolução vêm vestidos de anjos ou mendigos, uns falam a nossa língua outros não; uns são esguios, outros compactos; uns ignorados, outros brilhantes; uns populares e até célebres, outros vivem como eremitas afundados em bibliotecas de conhecimento e de pó.
São pessoas doces com olhares cristalinos, outros, pessoas menos doces, mas incisivas, pessoas duras que viram amorosas, pessoas amorosas que amargam... Todos os dias elas nos são postas no Caminho e todas, sem excepção, trazem algo que nos ajuda a crescer e a evoluir.
Muitas, esquecemos (ficam para trás, junto com as primeiras cartas de amor que nos foram escritas escondidas algures dentro de uma caixa de sapatos num sótão entregue às aranhas e suas teias), outros, permanecem. Permanecem porque nos marcaram. Deixaram os seus nomes, as suas palavras, o olhar ... Permanecem porque deixaram a sua presença gravada em carne viva nos registos da nossa memória (tão (estúpida?)/sabiamente selectiva).
Pode parecer um cliché, não deixa de o ser. Mas não é por ser um cliché que o seu sentido é menos verdadeiro.
Aos 17 anos, entrou na minha vida uma Criatura de olhar doce e amoroso, voz de mel e corpo franzino que parecia um Anjinho caído do Céu, muito delicado, mas com muita sabedoria e um Amor tão grande dentro dela que a mim, me ardia o coração de a ouvir falar.
Ensinou-me coisas tão importantes como "o que era respirar" e foi com ela que fiz as minhas primeiras meditações. Saia das aulas dela parecendo que não andava... Levitava...
Essa minha primeira professora de yoga marcou-me profundamente. Na altura, contudo, eu era demasiado tímida para lhe perguntar o que era aquilo, porque é que fazer aqueles exercícios me fazia tão bem... e acima de tudo, de onde vinha aquele amor tão grande que ela trazia no peito... e porque usava ela tantas vezes a palavra "aceitação". Eu, na altura, limitava-me a fazer as aulas e sair, de olhos postos no chão, com vergonha de lhe fazer perguntas e de lhe dizer que gostava muito dela.
O tempo e todo aquele rol interminável de "coisas" que acontecem nas nossas vidas, encarregaram-se de fazer com que eu perdesse o rasto a essa Criatura maravilhosa. Muitos anos se passaram, depois disso. Outros professores, outras técnicas, uma vida C-H-E-I-A de coisas, mas a mesma ânsia e a mesma sede... e aquela Criatura nunca se despegou da minha memória.
Se a magnífica roda da Vida se encarregou de nos separar é também a ela que devo o nosso reencontro... Passados 15 anos voltei a deixar os sapatos à porta da sala e entrei de pés nus naquela aula com a convicção absoluta de que algo de mágico se iria passar e que, de certo modo, iria "regressar" a casa.
Não levitei, mas quase. No final, consegui fazer aquilo que nunca tinha feito quando era miúda... Dei-lhe um abraço, um beijo e contei-lhe que, através dela, através da semente que ela tinha deixado em mim, com a sua calma, a sua doçura e o seu Amor, a minha busca no yoga nunca parou.
Mesmo nos momentos em que o meu corpo rejeitou ser instrumento da minha evolução.
Nestas alturas (sabendo eu que deveria ser SEMPRE) o meu sentimento de Gratidão por essa energia tão maravilhosa, que tudo Une e Separa, é Maior e eu ajoelho-me, insignificante, em reverência e entrego-me a esse processo a que tantas vezes resisto, e que se chama Vida.
Num dia de Mercúrio à 3ª hora de Mercúrio
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