Vem
Te
direi em segredo
aonde
leva esta dança
Vê
como as partículas do ar
E
os grãos de areia do deserto
Giram
desnorteadas.
Cada
átomo
Feliz
ou Miserável,
Gira
apaixonado
Em
torno do sol.
Ninguém
fala para si mesmo em voz alta
Já
que todos somos um,
falemos
desse outro modo.
Os
pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos
pois a boca e conversemos através da alma
Só
a alma conhece o destino de tudo, passo a passo
Vem,
se te interessas, posso mostrar-te.
Desde
que chegaste ao mundo do ser,
uma
escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro,
foste mineral,
depois,
te tornaste planta,
e
mais tarde, animal.
Como
pode ser segredo para ti?
Finalmente,
foste feito homem,
com
conhecimento, razão e fé
Contempla
teu corpo - um punhado de pó
Vê
quão perfeito se tornou!
Quando
tiverdes cumprido tua jornada
decerto
hás de regressar como anjo,
depois
disso, terás terminado de vez com a terra,
e
tua estação há de ser o céu.
Não
durmas,
senta
com teus pares.
A
escuridão oculta a água da vida,
Não
te apresses, vasculha o escuro.
Os
viajantes noturnos estão plenos de luz
Não
te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te
pés para viajar?
Viaja
dentro de ti mesmo,
e
reflete, como a mina de rubis,
os
raios de sol para fora de ti.
A
viagem conduzirá o teu ser,
transmutará
teu pó em ouro puro.
Sofreste
em excesso
por
tua ignorância,
carregaste
teus trapos
para
um lado e para outro,
agora
fica aqui.
Na
verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos
mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti
Eis
aqui o sentido profundo da minha relação contigo,
Porque
não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh
dia, levanta! Os átomos dançam
As
almas loucas de extase dançam,
A
abóbada celeste, porcausa deste Ser dança
Ao
ouvido te direi aonde leva sua dança.
Ontem
à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
_
Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito
docemente, ele me disse ao ouvido:
-
Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!
Quero
fugir a cem léguas da razão,
Quero
da presença do bem e do mal me liberar,
Detrás
do véu existe tanta beleza: lá está meu ser,
Quero
me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu
soube enfim que o amor está ligado a mim.
E
eu agarro esta cabeleira de mil tranças
Embora
ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje,
eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.
Ele
chegou... Chegou aquele que nunca partiu...
Esta
água nunca faltou a este riacho
Ela
é a substância do almíscar e nós seu perfume,
Alguma
vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?
Se
busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se
busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se
bebo água, quando estou sedento
Vejo
na água o reflexo do teu rosto.
Sou
medido... ao medir teu amor
Sou
levado... ao levar teu amor
Não
posso comer de dia nem dormir de noite
Para
ser teu amigo
Tornei-me
meu próprio inimigo.
Teu
amor me tirou de mim,
De
ti, preciso de ti
Noite
e dia, eu queimo por ti
De
ti, preciso de ti.
Não
posso dormir quando estou contigo
por
causa do teu amor
Não
posso dormir quanto estou sem ti
por
causa de meu pranto e gemidos.
Passo
as duas noites acordado
mas,
que diferença entre uma e outra!
Não
temos nada além do amor
Não
temos antes, princípio nem fim
A
alma grita e geme dentro de nós:
-
Louco é assim o amor
Colhe-me,
colhe-me, colhe-me
À
noite, pedi a um velho sábio
que
me contasse todos os segredos do universo.
Ele
murmurou lentamente em seu ouvido:
-
Isto não se pode dizer, isto se aprende
A
fé da religião do Amor é diferente,
A
embriaguez do vinho do Amor é diferente,
Tudo
que aprendes na escola é diferente.
Tudo
que aprendes do Amor é diferente.
Vem
ao jardim da primavera, disseste.
-
Aqui estão as belezas, os vinhos e a luz.
Que
posso fazer com tudo isso em ti?
E
se, estás aqui, para que preciso disso?
Poemas Místicos-Jalal al-Din Husain Rumi
Num dia de Marte à última hora de Mercúrio