sábado, 21 de setembro de 2013

De Ibn-Arabî, seu Mestre Abu Ya’far al’Uryanî (de Loulé) e a gata preta


Não será segredo, a esta altura do campeonato, que moi-même tem um carinho muito especial pelos Irmãos Sufis!

Além de os estudar no Mestrado de História e Cultura das Religiões, tento aplicar no dia-a-dia os seus ensinamentos, apreciar as suas maravilhosas histórias, deliciar-me com a sua magia...

Nas minhas pesquisas científicas sobre Ibn'Arabî (personagem que muito estimo), lendo Asin Palacios e escavando pela internet, encontrei este maravilhoso texto e passo a sintetizá-lo, com os créditos devidos do autor!


Al’Uryanî, um mestre português de Ibn ‘Arabî

Ibn ‘Arabî, um dos maiores sufis de todos os tempos, nascido em Múrcia no século XII, teve como primeiro mestre Abu Ya’far al’Uryanî [ou Uryabî] de Loulé. 
Este grande mestre português influenciou profundamente Ibn ‘Arabî; um dos aspectos em que o marcou foi na prática do dhikr Allah.
Ibn ‘Arabî descreve assim o seu primeiro encontro:
De entre todos os meus mestres, o primeiro a quem encontrei no caminho de Deus foi Abu Ya’far al’Uryanî. Chegou a Sevilha, onde vivíamos, quando eu começava a iniciar-me no conhecimento deste sublime método de perfeição espiritual, e fui um dos que se apressaram a aproximar-se dele. Fui, pois, visitá-lo e deparei com um homem completamente entregue à prática da oração mental.” 

Mais à frente, o sufi de Múrcia conta que "este mestre era um camponês iletrado que não sabia escrever nem contar; mas quando falava sobre a ciência da unificação, só nos restava ouvi-lo. Apenas com a intenção, fixava as ideias como se as tivesse consignado por escrito, e com a sua palavra punha a descoberto a realidade dos seres. Nunca o verias senão a praticar a oração mental, previamente purificado com a ablução ritual e orientado em direcção ao templo da Ka’aba".  Al’Uryanî era, portanto, "um homem de muita meditação e sempre pleno de alegria em todos os estados da sua relação espiritual com Deus".

Ibn ‘Arabî conta, com muito carinho, a seguinte história: havia um mestre que tinha uma gata preta em que ninguém conseguia sequer tocar, por ser muito selvagem. Dizia o mestre, dono da dita gata, que Deus lhe ofertara a dita gata "como um meio de distinguir os amigos de Deus". 
Com efeito, só a estes a gata se mostrava afável. Um dia, al’Uryanî entrou em casa deste mestre e: “a gata estava escondida no último quarto da casa; olhou-o antes que ele se sentasse, e enquanto o mestre lhe dizia: «Senta-te», deu a gata um salto e, estirando-se no peito de al’Uryanî , abriu as patas dianteiras, abraçou-o e começou a passar e repassar a sua cabeça nas barbas de al’Uryanî.” 

E assim ficou a até que al’Uryanî se levantou para sair. Contou depois o mestre, emocionado, que nunca a gata tivera tal comportamento com mais ninguém. 

Deliciosa esta história, não é?


Num dia de Saturno à primeira hora de Saturno




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