quarta-feira, 14 de agosto de 2013

De poesia popular

Eu gosto de poesia popular.
É simples, directa, rima e transmite, regra geral, o sentir de gente que nunca soube bem usar papel e lápis.
São rimas básicas de uma ternura e de um encanto que, a mim, me deixam sempre com um sorriso na boca.

Tendo tido um avô que, não sendo popular no sentido de reconhecido, era definitivamente poeta (e que aos oitenta e sete ainda recitava de cor (!!) poemas, versos, rimas e motes que ele tinha composto enquanto jovem), tenho um respeito imenso por essa forma de expressão. Talvez porque, tantos, como o meu avô, sentiram na construção poética (ainda que simples) uma forma de exprimir o que a sociedade lhes pedia que calassem.

Deixando por agora o meu avô e as minhas raízes do Alentejo, conta a história que num dia da dita Feira de Elvas em 19-e-troca-o-passo, um suposto "mendigo" chamado Jaime cuja alma e inspiração se alimentavam fortemente de álcool, terá adormecido na Praça principal depois de largos excessos cometidos.

Quando o sol já ia alto, alguém o terá ido acordar com a seguinte frase: "- Acorda Jaime! Já é dia e o sol está forte.".

Frase que teve de pronto esta doce e dolorosa resposta, ainda o Sr. Jaime nem tinha aberto os olhos:

"- O Sol é a minha crença!
E nem que eu morra aqui queimado,
Ainda assim não compensa,
Os frios que eu tenho passado!".


Quando nos queixamos que a nossa vida é injusta porque não temos o carro X ou Y, ou porque não podemos ir de férias, é sempre bom lembrar que tempos houve em que havia pessoas que nem pão tinham para se alimentar (... os tempos não mudaram assim tanto, nós é que ficámos mais exigentes com a vida e mais vaidosos).

Dia de Marte à 3ª hora de Mercúrio

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